(A história relatada a seguir aconteceu realmente comigo. "Billy" é apenas um pseudônimo para preservar a integridade moral do verdadeiro personagem desse fato heheh... Era noite. Um acampamento comum, de 3 dias e 2 noites, mas em um lugar muito interessante e com jogos muito divertidos. Tinha eu apenas 12 anos quando isso aconteceu).
Estávamos participando de um jogo noturno. A regra era a seguinte: O chefe ficava dentro de um quadrado desenhado no chão, de aproximadamente 10x10 metros. O chefe apitava e fechava os olhos, dando 1 minuto para todos se esconderem. Ao apitar novamente, tínhamos 15 minutos para entrar dentro do quadrado sem sermos vistos, enquanto o chefe ficava lá com sua lanterna (sem sair do quadrado) tentando nos achar. Ao final da rodada, ganhava 2 pontos quem conseguisse entrar no quadrado, e 1 ponto para os que estivessem mais próximos do quadrado (mesmo sem entrar nele) ao fim do tempo.
Bem, uma rodada do jogo transcorreu normalmente. Mas na segunda, todos já espertos, resolveram se esconder em locais diferentes. Todos resolveram subir um morro que havia por perto. Eu fiquei próximo ao topo do morro, escondido atrás de um cupinzeiro (não era o do Nicanor, fiquem tranquilos). Os demais? Todos subiram em uma árvore que ficava no topo do morro, um pouco acima de mim. Ficou parecendo um pé de gente. Tinha escoteiro em tudo que é galho. O tempo passava e ninguém se manifestava para tentar se aproximar do quadrado. Foi então que ele, o grande Billy, - o herói dos fracos e oprimidos - que era da minha patrulha, cochichou para mim lá de cima (ele estava no galho mais afastado do tronco, e abaixo dele, já começava a decida do barranco):
- Ô Marcão, eu vou pular, senão a gente não consegue os 2 pontos.
- Sê é loco Billy? Você tá bem em cima do barranco, vai cair e vai sair rolando.
- Esquenta não Marcão, eu sei o que tô fazendo.
É, sabia. Sabia uma ova. Dito isso, ele pulou do galho. Como eu previra, ele não foi capaz de vencer a ladeira e começou a rolar morro abaixo assim que tocou os pés no chão.
A cena que vou descrever a seguir é totalmente real, não me sai da cabeça. Tudo aconteceu em poucos segundos, mas aqueles segundos que duram...
Após a queda, Billy começou a rolar em forma de tatu-bola. Rolava e quicava em tudo quanto era toco no caminho. Nesse momento, eu comecei a rezar... "Pai do céu, protege o Billy"!
E o Billy rolava cada vez mais rápido. Todos estavam apreensivos, e o chefe tentava localizar com a lanterna a fonte do barulho. Eu podia ouvir os "aiai" abafados do Billy, que parecia não querer se entregar mesmo assim. E eu continuava minhas preces: "Pai, o Billy é trapaiado, mas tem um coração bom. Ajuda ele".
E assim foi. Meus olhos já estavam esbugalhados e minha vontade de gritar "Chefe, o Billy tá caindo" era grande.
Mas pensei: "Não! O Billy se sacrificou para que pudéssemos ganhar os 2 pontos, não posso permitir que seu trabalho seja em vão. Ele vai chegar lá embaixo, ira elevar o nome de nossa patrulha. Bardos cantarão canções sobre ele pelas ruas, e seus feitos serão lembrados no decorrer das eras, nos Fogos de Conselho sobre céus estrelados". Então eu pedi: "Pai do céu, quando o Billy chegar aí, diz pra ele que ele é parceirão".
Minhas suposições sobre a possível caminhada de Billy para o descanso eterno ficaram mais fortes, quando ele bateu as costas em um cupinzeiro (de cabeça para baixo) e deu um giro de 540 graus no ar. Caiu e continuou rolando. Nesse momento, meus olhos se umedeceram, e meu peito se enchia de orgulho, pois tive a honra de conhecer e vivenciar grandes coisas ao lado do grande Billy. Me lembrei de quando nadávamos na enchente, lá na rua de casa, e ao som imaginário de Van Halen, me veio à memória os nossos jogos de futebol na rua. Como o Billy ficava bravo quando gritava na orelha dele, mas depois nos sentávamos juntos para comer pipoca e beber guaraná.
Foram segundos eternos meus amigos. Ao chegar lá embaixo, Billy estatelou seu corpo no chão. Permaneceu ali por alguns segundos. De repente, como um milagre, Billy se levantou, deu seu passo triunfal e entrou no quadrado. O chefe ainda perguntou: "Billy, você está bem?"
Com a voz num misto de choro e risos, Billy exclamou:
- AI... Sim chefe, não foi nada não.
Nesse momento, ergui as mãos para o céu, e disse em pensamento: "Pai do céu, me desculpe pelo que vou fazer..."
E comecei a rir. Rir pra valer, um dos risos mais memoráveis de minha vida escoteira.
(PS - Esse negócio de achar que o "Billy" ia bater as botas, foi exagero hehe... mas todo o resto é verdade, inclusive o giro de 540 graus. Palavra de escoteiro).
SEMPRE ALERTA!
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